quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Olhóóóó cafézinhooooo....



Em Bissau, na capital, as ruas e passeios fervilham de animação e comércio. Tudo se vende, tudo se transacciona, desde géneros alimentares conservados, por vezes, em condições precárias, a ferramentas, cartões de telemóveis, tabaco, cadernos, roupas, artigos para o lar, caju, mancarra (amendoim), bananas, mangas, etc, etc. Tudo se negoceia e, especialmente, o estrangeiro pode ter a certeza que pode comprar quase qualquer artigo pela sua metade do preço, excepção feita aos bens alimentares. É uma profusão de cores, cheiros, barulhos, gente e mais gente. Muçulmanos com as vestes tradicionais, vestes típicas da Guiné-Bissau, vestes ocidentalizadas, de tudo se vê por aqui.

Numa pausa, tempo para um cafézinho, com marca registada e uma forma de servir, no mínimo, curiosa. 100 Francos CFA (0,15 euros) e eis-nos de novo reconciliados com a vida...

Os transportes na Guiné-bissau




A opção melhor para um estrangeiro se deslocar na Guiné Bissau é sempre a viatura particular, de preferência com capacidade todo o terreno. Existe uma rede viária entre as principais localidades, alcatroada e em relativo bom estado. Fora destes acessos, a circulação faz-se por picadas, em terra batida que, especialmente na estação das chuvas, não são de fácil circulação.
Está muito vulgarizado uma espécie de táxi colectivo denominado “toca toca” cuja lotação máxima é “mais um”. É incrível o número de pessoas e a quantidade de mercadorias que um “toca toca” pode transportar. Frequentemente viajam com as portas de trás abertas e mais dois ou três penduras aí arriscam a vida, precariamente instalados.
Tratam-se de viaturas, do tipo van, originárias sobretudo da Europa, sucata na sua maioria, aqui convertidas em transporte colectivo e levadas até ao extremo máximo da sua utilização. Não raro, são desprovidas de travões.
Na capital Bissau e arredores pode-se ainda circular em táxis ligeiros, de cor azul e branca, normalmente Mercedes 190D, já no limite máximo e possível da sua vida como veículos. Porém, mais um pingo de solda aqui e ali, umas peças do ferro velho e, incrivelmente, continuam a circular. O pagamento da tarifa num táxi não garante a exclusividade da viagem, e o estrangeiro facilmente se surpreenderá ao constatar que durante a viagem o táxi vai recolhendo passageiros até ao seu limite máximo.
Uma outra curiosidade relativa a transportes públicos é a existência de autocarros dos Serviços Colectivos de Transportes do Porto e dos serviços equivalentes em Barcelona, que circulam ainda com as cores originais. Apetece, ao ver passar um, apanhar uma boleia para a Foz do Douro.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Os direitos dos animais na Guiné-Bissau ou talvez não...













Manhã de 22 de Outubro. À porta do estaleiro do Soares da Costa, em S. Vicente, uma insólita proposta de venda.

Uns habitantes locais tinham capturado um crocodilo nas imediações do estaleiro e propunham a sua venda. Preço? Não muito caro, 40 ou 60 mil francos CFA. O equivalente a cerca de 60 a 90 €. Negociáveis, claro, como tudo o resto por estas bandas. Acredito que o arrematássemos por 30 mil. Recusamos. Estão em causa valores fundamentais, como os dos direitos dos animais. E um outro valor fundamental, o da nossa vida. Quem cria um bichinho de estimação que, depois de adulto, nos pode confundir com um hamburguer? Hum, temos que viver o presente, mas não custa ter uma pequena preocupaçãozinha com o futuro. Assim como guardar algum para um qualquer maleita que venha. Só que neste caso, o problema da maleita estaria resolvido à partida, por cosntituir o bichinho, quando adulto o mal maior. Não, recusamos mesmo. De resto o pobre do bicho não trazia sapatos nem carteira, e portanto não devia ter valor comercial. E quanto a direitos dos animais, prefiro acreditar que, na falta de comprador, o devolveram ao seu lar...

Travessia do Rio Cacheu



A travessia do Rio Cacheu, na actualidade, é feita por um "ferry", que atravessa veículos e pessoas, de nome Saco Vaz, nome de um herói de guerra guineense. Há uns meses atrás, o motor do ferry, avariou, não tendo voltado a ser consertado, por tal não ser possível, ou por não haver condições financeiras para tal. Seja como for, a travessia faz-se varias vezes por dia, entre as margens de Bissau e Ingoré. É uma mistura no mínimo curiosa, a carga humana e não só, que todos os dias atravessa o Rio Cacheu. Galinhas, cabras, porcos, mercadorias diversas, gente vestida de cores alegres, os cheiros, os sons, os carregos à cabeça, na mão, em carros, em camiões, fazem da travessia uma festa permanente, e um acontecimento ao nível social e antropológico para um estrangeiro.


O rio Cacheu, num fim de tarde de Setembro.


O rio Cacheu, nosso poiso de trabalho, é simultâneamente um local de lazer e um repouso para os olhos. Atravessado por um ferry, com o motor avariado e uma traineira de construção portuguesa a reboca-lo, é local de actividade pesqueira artesanal e lazer das crianças que brincam.

Com 670 metros de largura no local do atravessamento da ponte, é um rio largo de margens lodosas e revestidas com mandrágoras.

Mostra todos os cambiantes ao longo do dia, desde côr de chumbo quando o céu está carregado, até laranja no pôr do Sol.

A foto seguinte foi captada numa tarde de Setembro, o rio calmo, com o céu poeticamente carregado de nuvens. Uma mulher remava sozinha, impelindo a sua piroga ao longo do rio. Movimentos cadenciados, mas regulares, o destino era a apanha do caranguejo, em crioulo "caranguiss". A foto fica e imortaliza o momento, em que fotógrafo, natureza e sujeito fotografado são um só.


segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Abertura. Nota de boas vindas.

O propósito deste blogue é fornecer elementos acerca da estadia de portugueses num país estranho. Foi criado e é mantido por um grupo de portugueses, empenhados na construção de uma ponte na Guiné-Bissau. A ponte atravessará o rio Cacheu e facilitará as trocas comerciais e de pessoas entre a Guiné-Bissau e o Senegal. Serão aqui postados elementos acerca do nosso trabalho, fotos, texto e elementos acerca do país, das suas gentes, dos seus costumes. O propósito é surpreender. O propósito é mostrar uma realidade diferente da do nosso habitual quotidiano. Porque, por agora, o nosso quotidiano é este. Estranhos, num país estranho, onde os portugueses já se sentiram bem e fizeram as suas vidas. A Guiné de hoje, apesar dos traços que mantêm da antiga presença portuguesa, é bem diferente da Guiné onde alguns parentes nossos viveram.
Ficam aqui traços desta realidade, esperamos que gostem e contribuam
.

Pedro Moço